A criação do novo Terminal de Cruzeiros Lisboa ofereceu uma oportunidade rara de repensar e questionar a relação vivencial urbana entre cidade o rio Tejo, alvo de inúmeras propostas ao longo dos séculos, uma consequência da importância desta relação na caracterização e desenvolvimento de uma cidade que assume a sua vocação portuária natural.
A proposta de um edifício volumetricamente compacto permitiu libertar o espaço envolvente, reclamando-o para o uso público, oferecendo à cidade e aos bairros adjacentes um espaço verde de referência, com capacidade de comportar diferentes atividades, assumindo um carácter de grande parque ribeirinho.
A escala contida do edifício aproxima-o da escala urbana, enquanto o espaço liberto garante a distância necessária para contemplação da encosta de Alfama, marcada pelo skylinedo Mosteiro de São Vicente de Fora e do Panteão Nacional, que se conforma como um anfiteatro em torno do porto. Assim, a relação visual rio/cidade ganha tanta importância como a da cidade/rio, encontrando-se o parque e o edifício na transição, coexistindo e potenciando-se mutuamente.
O edifício surge como uma resposta programática eficaz aos navios, enquanto o parque responde à cidade, fazendo a mediação entre o centro histórico e o rio, funcionando simultaneamente como porta da cidade. A solução encontrada permite versatilidade, tanto no espaço interior como no exterior, para acolher eventos como exposições, cocktails, jantares, ciclos de moda e cinema, concertos, feiras e mercados, como alternativa à sazonalidade da ocupação do terminal.
Um percurso/promenade envolve o edifício, permitindo a descoberta lenta da envolvente, enquanto se percorrem os vários alçados. Culmina na sua cobertura, que ganha características de palco, relacionando-se com o rio sem qualquer tipo de obstáculos, como uma praça elevada.
O edifício representa, ainda, um feito tecnológico: as suas fachadas são construídas com um betão branco com aglomerado de cortiça com características estruturais - significativamente mais leve e com maiores capacidades de isolamento térmico do que o betão estrutural corrente - especificamente desenvolvido para o Terminal de Cruzeiros de Lisboa, a partir de uma ideia de João Luís Carrilho da Graça e da parceria entre a Corticeira Amorim e a Secil.